17 de julho de 2007

A morte súbita dos blogs

Talvez seja um pouco desajeitado nesta coisa de blogs. Vim para aqui há um ano e tal porque uma grande amiga me avisou que tinha iniciado um e me convidou a lê-lo. Depois de uns comentários que fizera aos seus textos, iniciei o meu também. Deu-me tanto prazer produzir e postar textos próprios como comentar textos alheios. Passado pouco tempo a minha amiga deixou a caneta no tinteiro e o blog começou a aparecer com a cor amarelada das páginas virgens.

É certo que o tempo é um recurso escasso e alimentar blogs nem aparece sequer na pirâmide das necessidades de Maslow. Há quem não tenha tempo e deixe de aparecer: o blog fica parado, não de um dia para o outro, mas de um dia para não se sabe quando.

Noutros casos, verifico a diminuição na cadência das postagens. À postagem dia a dia sucede a postagem semana a semana, mês a mês, e, depois, sabe-se lá. Acontece isto com os mais novos que começam com um grande entusiasmo e acabam sem pedalada. Percebe-se. Outros valores, claro...

Há casos de ficar atónito. Uma amiga perdeu o blog assim de repente. Isso mesmo, perdeu-o, desapareceu, kaput! Soube isso por portas travessas.

Outros têm morte anunciada. Como sou mesmo muito distraído, não me dou conta dos anúncios. Venho sempre a bater com o nariz na notícia necrológica.

Aconteceu isso agora com o blog de uma amiga virtual com que me cruzava no mister mútuo do comentar.

Fiquei chocado. Habituamo-nos a certas presenças que se intensificam na sua ausência...

Num mundo sem net ou telemóveis, digamos nos anos sessenta, uma pessoa enganava-se ao discar um número no telefone (só havia fixos, para quem não sabe). A pessoa do lado de lá, se tinha o tempo, a simpatia e a coragem necessárias, atendia, gerava-se uma corrente de comunicação tão agradável que se repetia no dia seguinte. Às tantas era um hábito.

Suponhamos, então, que a pessoa deixava de corresponder à chamada. Que lhe teria acontecido? Não havia maneira de saber. Repetiam-se as chamadas até se instalar a desesperança.

O outro era a pessoa desaparecida. Saint-Ex refere-se a isto, creio que no Vol de Nuit, quando sobrevoava na sua rota algumas casas sempre iluminadas e reporta-nos como isso lhe dava uma sensação de haver vida lá em baixo. E a dor e intrigação que causava ver certo dia essas luzes apagadas. O que as haveria extinto? É o que não se podia saber: as pessoas eram-lhe dadas só pelos sinais da sua presença.

Há cada vez mais blogs com a luz apagada. Como sanar a dor da separação. E como interpelar os que partiram para lhes dizermos ainda o que não lhes dissemos e que quereríamos dizer ainda?

Eu cá fico-me na minha: Talvez seja um pouco desajeitado nesta coisa de blogs.

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4 Comentários:

At 17/07/07, 03:28, Blogger APC comentou...

É...
E há pior...
Há o fechar de um blog por ter partido o seu autor...
E aí é um luto encravado, o que nos fica, por ter de real um quase nada, que era tanto.
É a morte súbita não virtual.
Mas isso já são outros quinhentos.

E estas já são horas de ir dormir.

Um grande abraço!

 
At 19/07/07, 21:02, Blogger C. comentou...

Olá :)

o registo um pouco melancólico ou nostálgico deste texto fez-me abrir a caixa de comentários para te dizer que subscrevo tudo, menos a parte de que és desajeitado. o Tremontelo é um blogue muito interessante e a escrita apetecível e motivadora da leitura.
Todos temos as nossas limitações de tempo ou outras, mas é sempre muito agradável e frutuosa a comunicação saudável e interessante que se estabelece entre pessoas que escrevem em blogues.
Aconteceu-me com os Frémitos algo parecido com o que aconteceu a essa tua amiga cujo blogue desapareceu. Tenho andado a repô-lo, aos poucos, por falta de tempo, mas também algum desânimo ou desmotivação.
Vou tentar ser mais assídua por aqui. Porque gosto de ler os teus textos e aprender coisas com eles.
Não feches as portas e já agora, não te importas de corrigir o link ali ao lado?

http://fremitu.blogspot.com

Obrigada e uma Boa Noite.

 
At 20/07/07, 16:08, Blogger mafalda comentou...

É... criam-se laços com os interlocutores virtuais e, às tantas, damo-nos conta de que precisamos deles, como de amigos da vida real, de quem sentimos a ausência quando desaparecem ou, simplesmente, se escondem de modo temporário. Continuemos juntos, já que nos encontrámos. Não deixemos que as vicissitudes da vida privada nos faça perder uns dos outros.

Beijos.

 
At 20/07/07, 16:09, Blogger mafalda comentou...

Este comentário foi removido pelo autor.

 

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