23 de agosto de 2015

Finalmente, o Tremontelo!

Gosto muito das férias, sobretudo dos regressos. Não sou homem de viagens. Melhor dito, de viagens por fora pois tenho em muito apreço as viagens interiores. O prazer da viagem vem da descoberta de novos lugares e,  no sítio onde se está, há lugares dentro de lugares num encaixamento de matrioscas ad infinitum. Viajar por fora é perder lugares e viajar cá dentro é ganhar insuspeitados lugares.

Quando cheguei há dois dias, tinha uma comissão de recepção à minha espera por detrás do portão. Anafados e luzidios, que a vizinha pusera zelo no seu tratamento. Assim que abri o portão de par em par, desataram na tresloucada corrida em círculos com que cerimonializam o contentamento, mantendo-se a uma prudente distância como se o meu afastamento temporário, que eles certamente, desaprovam, acarretasse a importação de apocalípticas pragas ou aquela desafronta merecesse clara e veemente desaprovação e repúdio. Quando, finalmente, me libertei das arrumações e tive um tempinho para lhes dar atenção, nem ligaram às papinhas. O que eles queriam era festinhas e afagos, coceguinhas  no pescoço e nas orelhas, não as ajustadas à sua necessidade mas em excesso, em descomedido e humano excedimento, hybris felina, sem saciação nem enfado. Eles sabem que me põe louco aquele ronronar arfante, ronronam todos em dissonia concertada, o meu ritmo cardíaco apazigua-se e dilui-se no mar de verde dos meus jardins.

A G. chegou mais tarde para o fim-de-semana. Intalámo-nos nos prazeres do Tremontelo que consistem em tirar prazer de tudo como se não tivesse havido ontem e não fosse haver amanhã. Havia ainda tomates e maçãs para apanhar. Grandes pequenos afazeres que não cabem numa agenda. Hoje é manhã de domingo. Levantei-me cedo e fiz imensas coisas. Agora estou na cama a escrever. Lá fora chove de mansinho.

2 Comentários:

At 23/08/15, 10:32, Blogger magix comentou...

Gostei muito: da celebração da chegada, do ronronar que apazigua o coração, da fruta madura e saborosa, das horas que se perdem num tempo sem tempo...e gostei também do tamanho. Vivam os post de 5 minutos! :-)

 
At 18/11/15, 17:07, Blogger bettips comentou...

Li, andei, com saudades do que não conheço. O Tremontelo, verde e azul, os bichos pensantes e habitantes. Sem grandes filosofias, só as dos reencontros pela tal coisa netiana. Que nos separa mais do que junta.
(desta vez tive de escolher imagens com peixes a provar que não sou um robot: erguem-se muros... de peixe, de fumo)
Abç

 

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