25 de outubro de 2012

Cartas de outono folhas caídas

Como as folhas do plátano do Tremontelo que tremeluzem ao mais pequeno sinal de brisa e se desprendem, rodopiam até estabilizarem depositadas no chão. Se não se atenta bem, dá a impressão de se encher o plátano de passarada em divertida algazarra. Não é esse o caso, é apenas a festança alarve do folherio em trepidação fractal.
Vai longe o tempo das últimas cartas de correio. Chamam-lhe os saxónicos de terras de sua majestade o snail-mail, a correspondência a passo de caracol, em despropositada oposição a este correio que é de correr, de cavalos que se revigoram nos postos, e por isso se chamava postal. Postar hoje é outra coisa: é carregar num botão que tem escrito "enviar". E aquilo lá se perde no espaço virtual para reaparecer no outro canto do mundo, tão longe como aqui ao lado, retomando a forma original e, talvez, o sentido.
Pois há bem mais de um ano! A fidelidade aos lugares não é garantia do retorno, é apenas uma condição da saudade. Na era da globalização neoliberal, o eu precariza-se e migra. Somos tão migrantes que até emigramos de nós próprios. E somos enviados mundo fora como se fossemos cartas circulares. Tombamos como folhas no outono da História.

1 Comentários:

At 25/10/12, 13:49, Blogger Rosa dos Ventos comentou...

Gostei do retorno!
Não voltes a ficar em silêncio tanto tempo, ajuda-me a ultrapassar estes ventos outonais...e não só!

Abraço

 

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