Quadros (4)
O que o cão não gostava mesmo nada era de ver a tartaruga a tentar coçar o dorso estendendo a mão por dentro da carapaça. dava-lhe umas raivas tais que rilhava os dentes fazendo um som característico. a gata é que não gostava daquele som e, por fim, o gato não gostava nada que a gata estivesse sempre a pensar comentários pouco benevolentes sobre as outras pessoas.Estavam todos na vertente poente do outeiro que ladeava a estrada e descia em ondulações harmoniosas até aos juncos que bordejavam a ribeira. a terceira ave desceu em voo picado na direcção da água, passou rasante a duas libelinhas que conversavam de janela para janela (posto que houvesse janelas), levantou o focinho e arrancou em voo rápido na direcção da alfa de centauro que como se sabe não é visível durante o dia mas, como se sabe também, as aves têm um sistema para detectar a alfa de centauro quando esta se encontra obscurecida pelo brilho do sol.
A erva era verde e fofa sendo este último predicado o mais adequado ao facto de estarem sentados. o caracol decidira pôr o skate de lado e incomodava toda a gente a perguntar se alguém conhecia um meio de transporte mais rápido. toda a gente o mandava ir de lebre prometendo que atiçariam o gato a correr atrás da lebre. não que lhe desagradasse a ideia mas com a gata por perto o gato não se atreveria. para além de que a lebre não suportava a ideia de transportar no dorso aquela espécie de lesma com casa às costas. [um dos velhos lá tirou um ás da sua mão com o qual vergastou furiosa e ruidosamente o tampo de madeira. o outro ao lado sofreu com o pensamento e o sobrolho a perda irreparável do seu rei]
O sábio olhou para a caixa com ar bovino. as concubinas dançaram com a coreografia adaptada à circunstância. na sala, alguns dos presentes interrogaram-se sobre o significado dos números. a lua corria pálida o seu caminho solitário.
Etiquetas: A CABRA ESBAFORIDA
3 Comentários:
E falas tu de filmes e de actores?? Isto é hiper-surrealismo, muito para além do "Chien andaluz"...
Forte abraço de bom fds
quadros que são um entretecer de irrealidades e realidades, a adiar o momento, desejado e temido, de abertura da caixa.
textos para imprimir e ler depois, devagar, enquanto se saboreia um café, junto à janela que dá para o jardim. pelo menos, é assim que vejo a minha Humana fazer.
marradinhas amistosas da bicharada
Medicina popular minhota:
Em Ponte de Lima, para curar a caspa, mas também para engrossar o cabelo fraco e dar-lhe brilho intenso, lava-se a cabeça com o cozimento da erva tormentelo.
E ao mesmo tempo declama-se:
Menina da nossa terra/ Com que lavais o cabelo?/Com umas ervas do monte/ Que se chamam tormentelo.
aqui fica uma resposta à "pergunta que todos fazem".
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