15 de agosto de 2010

Transumanância.

Depois, há a tristeza das cidades - me perdoem a redundância - que é uma tristeza triste. Pois não resultam as cidades do crescimento dos lugarejos rurais, mas da extrapolação dos estábulos onde se acotovelam as manadas de todos os géneros e espécies. Quintais, jardins e zonas verdes não tornam bonito o que de origem é feio, são apenas pequenos ou grandes negócios de arquitontura. Se querem ver gente, para falar apenas de Lisboa que as outras não conheço, é no Colombo e no Vasco da Gama. Deixem-nos abertos 24 horas ao dia ( e não percebo porque há quem se meta nisso! ) e verão o que eu quero dizer.

Desprezo as massas não por serem como os animais. Estes perfilam-se a cheirar o cu uns dos outros - o que até há quem ache que isso é normal. Desprezo as massas por se acotovelarem a cheirar os sovacos uns dos outros onde vão apodrecendo os aromas caros das perfumarias.

Na cidade, lixo entra e sai em contentores às toneladas todos os dias. Entra embalado e sai ensacado. Os cemitérios não são cá fora em colinas. As chaminés de cremação juntam-se às das padarias a forno de lenha eléctrico. A poesia está em todo o lado na cidade... porca, envergonhada, solitária. Como a pele dos corpos. E o ar que corrompe os pulmões.