5 de março de 2010

O exílio

Meditei hoje sobre o significado ancestral desta palavra, o "exílio". Deriva do étimo latino "exilium" de que mantém os dois significados reconhecidos nesta língua: (1) o de banimento ou expulsão; (2) o de lugar de acolhimento da pessoa banida, da pessoa expulsa. Recuando na história da evolução da língua latina encontramos um termo latino mais arcaico, "exsilium" revelador de uma significação mais original visto este termo compor-se de "ex" + "solum", querendo dizer, respectivamente, "para fora de " e "solo". O exílio, pensado originariamente, é o "estar fora", o "ser excluído" do solo. O solo é o chão que pisamos, o fundamento ("fundus"). O exílio é, assim, o ser arrancado do solo e projectado à distância.

O vendaval da semana que antecedeu o Natal e o da semana passada tiveram ambos esse condão: o de arrancar árvores do solo em que se afundavam e arrastá-las para longe. No Tremontelo foram exilados, sobretudo, os cedros do muro e da vedação de arame que rodeiam o Sítio. Não se trata, claro, de verdadeiros cedros do Líbano, mas de exemplares do "cupressus lusitanica", o cedro-de-Portugal, dizendo-se de Portugal não por ser originário destas partes - já que é nativo da América Central - mas por ter sido largamente cultivado e multiplicado na mata do Buçaco e daí expandido para todo o mundo.

Também eu vim exilado, arrancado do meu "solum" lá no Sítio pelas más condições do tempo e soprado para Sul à distância de cerca de setenta quilómetros. Aqui estou no meu exílio, dourado e quente, em Lisboa, a fazer arregaças ao mau tempo para ver se ele se vai embora.

Nestas andanças se vê o que são os verdadeiros exílios: a passagem monótona e lenta do tempo a contar as horas, os minutos e o segundos que faltam para o regresso, muitas vezes sem data marcada.

7 Comentários:

At 05/03/10, 15:59, Blogger Licínia Quitério comentou...

E a invernia descabelada parece não dar tréguas. De certo modo, somos todos obrigados a um exílio, porque confinados a um lugar supostamente abrigado de malfeitorias da natureza. Calculo como o Tremontelo tem sofrido. Vais ter muito que bulir, mas será um bom tempo o da regeneração.

Beijinhos.

 
At 05/03/10, 18:00, Blogger Justine comentou...

Por aqui não tive árvores exiladas, felizmente!
E ao contrário de ti, sinto-me exilada neste refúgio, de onde não posso sair senão ajudada...
Afinal esperamos todos, por razões diversas,que o bom tempo chegue para nos acabar com os exílios...
Abraço

 
At 05/03/10, 21:08, Blogger Rosa dos Ventos comentou...

O bom tempo irá ajudar, sem dúvida, mas o pior é o exílo interior...

Abraço

 
At 05/03/10, 22:55, Blogger Patanisca comentou...

Se largasses o teu rectangulosinho e viesses até aqui ver a tua sobrinha acabavam-se-te os queixumes de avezinha ferida. Dá beijinhos meus às amigas e aos amigos dos blogs.

 
At 05/03/10, 23:33, Blogger bettips comentou...

Lamento as árvores. O sítio arrancado ao seu magnífico "estar".
Um exílio pode ser dentro.
De nós. De portas.
Bjinhos

 
At 06/03/10, 11:48, Blogger Rosa dos Ventos comentou...

E eu a pensar que a Patanisca tinha desaparecido do mapa dos blogues, entenda-se...

Abraço

 
At 17/03/10, 10:45, Blogger Alberto Oliveira comentou...

.. todos nós (ou as nossas coisas), de uma forma ou de outra, já fomos (ou foram) uma vez (pelo menos) exilados(as).
Certa vez, era eu criança, por me ter portado mal, o meu pai exilou os Cavaleiros Andantes da minha vista e só os tornei a ver uns anos depois que o velho escondeu tão bem aquilo que não se lembrou onde os tinha metido. Do meu primeiro casamento, o primeiro exílio à séria: a minha mulher de então, farta de me aturar, exilou-me para a minha mãezinha. Espero que, devido à minha irrequietude, para o fim dos meus dias, não me metam num asilo.

 

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