10 de janeiro de 2010

Estou como o tempo

O tempo, agora, deu para chatear. Ora chove desalmadamente, ore correm ventos doidivanas, ora faz frio de rachar, e neva, gela e enregela. O mundo está baço, parado, aparvalhado. As notícias, cá de dentro e lá de fora, são as notícias... A crise já não é um repente, tornou-se um temperamento; lá fora ardem florestas, congelam pessoas e paisagens, as águas ceifam vidas aos milhares; aqui dentro, o vento arranca uns galhos aos pinheiros, que se espetam nos telhados, quebram algumas telhas. Tudo somado são horas de entrevistas com os repórteres do exterior. Já ninguém diz que está farto de política. A política é como o ressonar de quem vive há muitos anos no mesmo quarto.

Pergunto-me se há futuro para a Humanidade. Agora estou seguro de que não haverá humanidade para o futuro. O futuro será o pós-humanismo. Resta saber, então, se será também o pós-humanidade.

Já parimos os que hão de vir: as máquinas, os automatismos, o mundo auto-suficiente, emancipado do desejo, propalador das boas verdades, espaço lúdico abstracto. O ideal do espírito imortal!

Arrimo-me ao passado. Cheio de consciência de mim, aqueço-me por dentro no meu corpo. Sou daquela humanidade que já foi, agarrada à terra, ao barro que é a origem do homem.

Mas a terra também é uma memória, um desfilar de fantasmas. A terra sucumbe com a morte dos oceanos. Hoje frio de rachar, amanhã calor de desfalecer. Também os sentimentos se preparam para serem levados aos extremos.

1 Comentários:

At 11/01/10, 17:11, Blogger Justine comentou...

Estás num filosofar tristonho, mas (custa-me dizê-lo)bem realista. Quantas vezes eu me sinto também à margem deste mundo. Mas,optimista, acho que continua a haver lugar para os humanistas.
E lugar para as viagens, nem que seja apenas para comparar a nosa ficção com a realidade...(embora hajaquem prefira viver com a ficção ou as memórias, como o L.Durrell)
Abraço

 

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