8 de novembro de 2009

Não é para me gabar, mas tenho muita vaidade da minha “fruta”, principalmente dos tomates e dos marmelos.

No ano passado, na sequência do acidente do Rodrigo, deu-me para limpar uma faixa do terreno que lá andava ao deus-dará e espalhar à superfície uma enorme carrada de estrume de vaca e galinha. Tudo lavrado na Primavera, preparei uns camalhões para plantar couve de tipo variado (galega, portuguesa, lombarda, coração de boi, branca, roxa, brócolos), alface roxa e manjericão, e semear ervilhas e feijão verde. Para não falar mais do assunto, adianto já que não foi grande ideia a das ervilhas que, apesar de crescerem e darem bastante vagem, cedo se envolveram com erva daninha formando um mato impenetrável e desinteressante. Sementes por lá ficaram que me irão pôr problemas interessantes no próximo ano agrícola.



Os feijões cresceram bem e deram vagens grandes bem formadas e muito saborosas, resta só descobrir a que irão saber as que pusemos a congelar para usar durante o Inverno. Atrevi-me a semeá-los sem uma preparação adequada do processo. Valeu-me ter assinalado bem o sítio da semeadura e terem calhado as férias da Graça em Maio, que se deliciou um dia ao sol, longe das neves e da chuva de Boston, a apanhar e a desbastar canas para colocar no feijoal. As gavinhas lá despontaram e logo se enroscaram e treparam por ali acima. Apanhámos várias carradas de feijão até ter que retirar prematuramente as canas e os feijoeiros pelas razões que já vou explicar.

Tivemos alfaces para dar e consumir. Para além do seu uso convencional nas saladas, acompanhada muitas vezes com couve branca ou roxa migada, descobri a sopa de alface que vim a saber ser um regalo. Couve galega para o caldo verde, couve portuguesa para os legumes cozidos com peixe e outras sopas, lombarda para o cozido e para enchidos, couve de toda maneira e feitio para todos os gostos, que ainda continua a dar (mais a de folha que a de repolho), quer as as bem estabelecidas, quer as filhas das primeiras que grelaram e floriram.



Crise grande veio com o tomate. Semeei um pouco de tomate cereja no outro ano passado deu para algumas saladas e temperos, outro para congelar com um resultado não muito brilhante. Estes ano tinha para lá uns pés semeados em leiras e vasos com as sementes obtidas na colheita anterior. Passei a Primavera em cima daqueles pezinhos frágeis cheio de cuidados e de afeições. Quando fui analisar o lugar na horta que haveria de preparar para transplantar aquelas delicadas plantinhas, deparei-me com pés de tomateiros, robustos e viçosos, a ocupar todos os espaços, os vazios e os preenchidos por outras plantas. Os meus pezinhos de estimação lá ficaram em estufa a estiolar, enquanto os outros cresciam e engordavam vigorosamente transformando um enorme espaço numa mata verdejante. Treparam pelas canas dos feijoeiros, treparam às couves encobrindo as baixotas e enroscando-se nas de metro e meio, deitaram mão de tudo o que por ali se erguia transformando a minha horta numa monocultura de tomateiro. Comecei a apanhar tomate em meados de Julho e ainda por lá há, por muito que me esforce a arrancar os tomateiros como quem arranca silvas. O fruto, quando bem amadurecido tem o aspecto de ginjas gordas e um sabor sem igual. Houve tomate para dar, para consumir e para destruir. Sequei tomate ao sol temperado com alecrim, tomilho e manjericão (secos e esmagados em almofariz) que engarrafei em azeite e que são a perdição do Daniel. A Graça preparou no forno molho de tomate com alho, manjericão e azeite. Fiz várias levas de doce de tomate com um ligeiro toque a canela e raspas de cascas de citrinos.



Este ano também foi bom para os marmelos cuja produção foi excelente em quantidade e em qualidade. Para uso diário vamos cozendo alguns em calda, mas durante todo o Outono a grande distracção para os nossos fins de semana vai continuar a ser fazer marmelada. E vamos continuar a disputar por diversificar e melhorar os procedimentos de confecção.

4 Comentários:

At 09/11/09, 19:02, Blogger Justine comentou...

Pronto, depois de lido o teu relatório agrícola(que nem o irmão do senhor do jazz faria melhor) aqui estou eu a salivar com o doce de tomate(ah, o meu preferido de entre todos os doces...), os marmelos cozidos e até já me cheirou à marmelada acabada de fazer...
Quando os produtos estiverem à venda na "boutique", por favor avisa:))
(eu avisar-te-ei do próximo bailarico...)
Abraço

 
At 11/11/09, 19:31, Blogger bettips comentou...

Esta tua vertente
de cavador,
adorável.
Esta vem da terra, rotunda e sem disfarces, da distracção da alma.
Ah...lezírias fecundas, ao pensar nos frutos.
Lindo, Rui!

 
At 14/11/09, 10:44, Blogger Alberto Oliveira comentou...

Vaidade de agricultor
quem a tem chama-lhe sua;
eu já vi o meu amor
a semear toda nua.

A semear toda nua
fruta "pelos cotovelos";
esta é minha aquela é tua
nem se esquece dos marmelos.

Nem se esquece dos marmelos
dos tomates também não;
está ali "pelos cabelos"
pois nem sabe que horas são.

Pois nem sabe que horas são
faltam-lhe ainda as ervilhas;
não quer perder o avião
que a leva p´rás Antilhas*.

* A Graça a fartar-se de viajar pelos USA e o meu amor não viajava?!. Isso é que era bom!

 
At 26/01/10, 17:43, Blogger Rosa dos Ventos comentou...

Já tinha desistido de vir aqui e eis que um morador desse sítio deu sinal de vida!
E que vida saborosa, colorida e cheirosa!

Abraço

 

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