Regresso de férias
Confessei ao Rodrigo que nada tinha feito por este blogue. Não sei se me ouviu, tão interessado que estava em falar do seu burrico. "E como está a minha menta lá no sítio? É bem melhor que esta não achas?". A conversa era estranha, era uma desconversa em que o Rodrigo teimava em elogiar o seu novo asinino amigo e em que eu falava-lhe das novidades cá da terra, enquanto conduzia concentrada nas espirais de areia que dançavam sobre o asfalto da estrada de Túnis para Sidi Bou Said e nos floridos aloendros que a bordejam.A conversa da menta é um expediente típico do Rodrigo para fugir dos assuntos. Estávamos sentados numa esteira no Café des Nattes a beber chá verde com menta. Ele tinha-me perguntado notícias daqui e eu estava a fazer-lhe uma resenha. E ele cortava sempre: "Que nome achas que devo pôr ao meu burrito?". Tentava pensar aceleradamente, mas que digo a este homem, não sei que lhe faça, às vezes só me apetece estrangulá-lo, depois olhava para ele e pensava como era tão querido, tão sedutor. E vinha a vontade de fazer-lhe festinhas mesmo ali. Mas tinha comigo a culpa de não ter tocado ainda neste blogue.
Mais tarde abriu-se sobre alguns tópicos que desejava que eu publicasse aqui, que estenografei excitadíssima. Tem ideias absolutamente novas sobre o corpo que, segundo me pareceu, anda a martirizar lá no deserto da Líbia, como os monges proto-cristãos, para atingir a experiência da separação do corpo e da alma. É que, diz, gostava de observar a sua própria alma dentro de um corpo sem os hóspedes não convidados.
Revelou-me a existência de um conjunto de escritos com conversas com os gatos guardadas em caixas nos sótãos do Tremontelo. Que não as tinha publicado por estar desconsolado com a partida do Tigre, mas que agora já estava com mais paz de espírito para as dar a lume. Pelos vistos, discutiu o assunto com o burrico lá nas dunas do Ubari, que é falando com um bicho que o Rodrigo dá a volta às suas ideias casmurras.
Tentei convencê-lo a postar textos pelo telemóvel ou a mandar-me indicações por mensagens escritas ao que ele anuiu daquele jeito indeciso à "perdido".
Fiquemos agora por aqui, que o trabalho amanhã é a madrugar.
Teresa
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PS: Se alguém souber do paradeiro do tio Gervásio que mo comunique. Fixou-se a residir lá para cima, para o Norte. Falo com ele por telemóvel mas não me dá a morada. Acho que ALGUÉM o raptou e o mantém sequestrado.
2 Comentários:
Olá Patanisca,
Ninguém raptou o teu tio nem o mantém sequestrado. Fica sabendo que, pelo contrário, se encontra muito bem, de boa saúde e em excelente companhia (ele assim o diz!).
Aqui há uns dias comentou comigo que começava a sentir saudades de algumas pessoas: do seu querido amigo Rodrigo, da sua adorada sobrinha Teresa... (bom, pelo menos, e acima de tudo, desses dois). Pelo que me deu a entender, pensa visitar-te, e quiçá ao sítio do Tremontelo (apesar de o Rodrigo se encontrar ausente...). Poderá acontecer, inclusivamente, que tenhas uma surpresa - agradável, espero. A verdade é que pode muito bem acontecer que eu vá com ele. Afinal, agora andamos juntinhos que nem siameses e a separação, ainda que por pouco tempo, está completamente fora dos nossos planos.
Fica, pois, descansada, Patanisca, que eu trato muito bem do meu gigante (como não o fazer? O homem é um anjo que me caíu aqui no jardim... completamente encharcado e aflito e aqui acabou por ficar, depois de uma noite de tempestade lá fora - lareira, aconchego e muito vinho do Porto cá dentro...) Mais não preciso dizer, pois não?
Um abração do teu tio e um beijinho meu. Até breve.
vou atrasada neste post mas parece que tudo continua na mesma :)
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