13 de julho de 2008

Desculpem qualquer coisinha...

Como dá para ver, sou nova na casa. Chamo-me Teresa, mas o Rodrigo insiste em apelidar-me de patanisca. É bom homem mas põe sempre um sorriso maldoso quando me chama "ó minha patanisca!". E eu não sei, se gosto, se não gosto. Afinal de contas, foi o papá, irmão do tio Gervásio, quem pôs ao Rodrigo o nome de Perdido.

O papá morreu em comissão na Guiné tinha eu cinco aninhos. Tinha estado em Angola um ano antes e fora camarada do Rodrigo que lhe salvara a vida por duas vezes em emboscadas. O Rodrigo, embora fosse muito distraído, tinha sangue frio e era muito resoluto em situações de grande estresse. Nas situações normais parecia andar com a cabeça na lua, a pensar ninguém sabia em quê, e saía a pé pela porta de armas picada a fora, aparecendo um ou dois dias depois todo esfarrapado e com a barba por fazer. O major, o oficial de operações do Batalhão, passava-se e ia aos arames: "O capitão Leonel não é capaz de fazer nada por esse desqualificado do alferes Rodrigues?". As coisas andaram tensas durante meses, mas, na Companhia, todos os oficiais estiveram de acordo que o Rodrigo era, ao fim e ao cabo, o Perdido, e todos estavam de acordo em não levar a sério as bizarrices dele, e a coisa assim ficou e a alcunha transbordou para fora da vida militar.

As trágicas circunstâncias que levaram o papá, aproximaram, no funeral, o Rodrigo e o tio Gervásio dando origem a uma profunda e sólida amizade. Daí, a razão para eu estar aqui.

O tio Gervásio anda assoberbado com os afazeres da sua empresa e assentou arraiais lá para o Norte, aparecendo já poucas vezes, quer por Santarém, quer por Lisboa. Estive uns tempos com o Rodrigo lá no Sítio e ele fartou-se de insistir para que eu tomasse o lugar do tio já que, sendo engenheira, tinha grande apetência pelas coisas das novas tecnologias. Expliquei-lhe que uma engenheira hidráulica dedicada às coisas do Ambiente estava mais interessada no sistema de rega e nos seu projectos de conversão de resíduos orgânicos do que em computadores e nestas coisas da Internet. Ao que ele fazia orelhas de mouco. Tanto insistiu que não tive outro remédio senão aceitar este encargo.

Mas, antes de aqui chegar, o que não passei! Não é que o bom do Rodrigo se vai também embora e não me deixa a password para aqui entrar? Isso mesmo: fiquei tempos sem saber o que fazer! Hoje lá me mandou uma mensagem via SMS com o meu UserId e a minha password.

A papelada está, em parte, um caos. A maioria está devidamente arrumada e catalogada reflectindo o espírito geometricamente pombalino do tio Gervásio.

O problema é que os textos devem ser publicados nos sites aqui ao lado e não no Tremontelo, onde estou a escrever. Mas a esses não tenho acesso. Não sei o que fazer. Dá-me uma raiva que só me apetece chorar...

... Ou, então, estrangular o Rodrigo. Mas onde é que ele pára?

Aproveitei a sua ausência para lhe ir arrumar o quarto, coisa que proibiu severamente de fazer.

No meio dos lençóis amarrotados encontrei um bilhetinho que dizia:

"Nem penses ir buscar-me à Líbia, sardenta, como já fez o maluco do teu tio. E não te esqueças de controlar a pressão da rede de rega da horta".

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11 Comentários:

At 13/07/08, 18:09, Blogger Rosa dos Ventos comentou...

Agora és tu que estás perdida?! :-))

Abraço

 
At 14/07/08, 11:04, Blogger poetaeusou . . . comentou...

*
ai o Mouammar Kadaffi.. . .
,
conchinhas,
,
*

 
At 14/07/08, 11:56, Blogger Teresa Durães comentou...

mais uma teresa a povoar estes espaços

indecente a alcunha dada pelo Perdido :) que tão Perdido anda que esquece as passwords

 
At 14/07/08, 14:57, Blogger Justine comentou...

Mas que trabalheira em que te meteste, Patanisca! Contudo,como mulher, e forte, irás dar conta do recado:))

 
At 16/07/08, 22:21, Blogger mafalda comentou...

Ah, então és tu a patanisca que escreveu um comentário lá no meu blogue acerca do "colinho" do meu bom gigante, que afinal parece que vem a ser teu tio. Fiquei um pouco de pé atrás quando li aquela frase, que me pareceu conter uma fina ironia que não consegui apanhar... agora já estou mais sossegada... afinal, é normal que os sobrinhos se aninhem no colo dos tios... ou não?
Felicidades no desembrulho desta missão que o nosso amigo Rodrigo te deixou!... tss... tss... é mesmo dele!
Um beijo, entretanto.

 
At 18/07/08, 00:41, Blogger Patanisca comentou...

rosinha dos ventos:
perdida, eu? em África fiquei muitas vezes a olhar para os rios e pensava: eles correm para os lagos, desassossegadamente, e nunca se perdem.
porque me hei de perder eu, aqui sentada, a olhar para os escritos do Rodrigo a fluírem em papéis amarelecidos? Para um fluxo há sempre um refluxo... nem que seja de wiskey de malte.

 
At 18/07/08, 00:44, Blogger Patanisca comentou...

poeteusou:
O Coronel e o Rodrigo são amigos de há décadas: um gosta de tendas, o outro gosta das grutas do deserto. Conheço histórias muito interessantes desses tempos mas não as devo revelar.

 
At 18/07/08, 00:48, Blogger Patanisca comentou...

teresa duraes:
É verdade, para honrar a mãe vilipendiada da pátria.

Quando o Rodrigo começa a chamar nomes às pessoas não há nada a fazer: o nome seguinte é sempre pior. Por isso, aceitei este, acho que me dá um certo appeal. Quanto a sardenta é mesmo assim... coisa de pigmentação. Nem todos são tisnados como o Rodrigo.

 
At 18/07/08, 00:54, Blogger Patanisca comentou...

justine:
Quando me meto em trabalheiras penso para comigo:

"Abre a janela e olha para a rua
"E bebe a taça inteira da amargura
"E a derradeira embriaguez da multidão mística
"E despede-te da Alexandria que te abandona.

 
At 18/07/08, 01:00, Blogger Patanisca comentou...

Mafalda:
Só disse que o tio é fofinho o que não tem nada de mais. Quanto a ninhar-me no colo dele já sou grande de mais.

Quanto ao Rodrigo, ai! Se não fosse quem é, já lhe tinha despachado o "baú" para a estação da Pampilhosa da Serra, sei lá onde isso fica, mas é muito querido o velhote, acredita.

 
At 18/07/08, 01:29, Blogger Maria Carvalhosa comentou...

Olá Teresa,
Finalmente chegamos à fala.
Quero que saibas que tenho muito prazer em estabelecer diálogo,ainda que cibernético, contigo. Gosto muito do Rodrigo, esse a quem, não entendo porquê, acabas de chamar velhote... será porque tu és uma jovem e ele tem o dobro da tua idade? Pois... visto dessa perspectiva até tens razão... a mim é que não me soa nada bem, já que o considero um rapaz da minha geração... um pouco mais vivido do que eu, lá isso é verdade, mas muito longe de ser considerado velho.
Quanto ao teu tio Gervásio, não o conheço tão bem, mas amigos comuns, entre os quais o Rodrigo e a Mafalda, têm-me dito que é muito peculiar e extremamente afável, apesar dos seus modos aparentemente desajeitados. Um autêntico "carácter", asseguram-me a seu respeito. E eu acredito.
Um beijo para ti, Patanisca sardenta. E boa sorte, já que estás em tão boa companhia!

 

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