Perdido
Ulisses perde-se no regresso a casa. “Mas em que pensava eu antes de me perder a ver? Não sei.Vontade? Esforço? Vida?” [1].“Romeiro, Romeiro... quem és tu?! “ [2]. À pergunta de Polifemo, Ulisses diz que é “Ninguém!”.
Vasco da Gama peregrina entre obstáculos que o separam da Pátria, sabe onde quer chegar, mas procura outro caminho. Não diz a Telmo Pais que é “Ninguém!”
Ulisses e Gama erraram mundo fora e desejaram por recompensa o regresso ao familiar. Saudade de cá? Ou saudade de lá? “Não há sossego - e,ai de mim!, nem sequer há desejo de o ter…” [1]
Leopold Bloom que bem poderia estar a trabalhar para o patrão Vasques no escritório da Rua dos Douradores... “tomem os homens motivo de não desanimarem com os trabalhos da vida para deixarem de fazer o que devem” [3]
[1] Livro do Desassossego de Bernardo Soares, de Fernando Pessoa.
[2] Frei Luís de Sousa, de Almeida de Garrett.
[3] Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto.
13 Comentários:
Um perdido entre as saudades do aqui e do ali, errante e sem sossego, indeciso sobre quem é e sem saber que trabalhos da vida o fazem mover...Gostei muito desta leitura cruzada de outros perdidos; e fiquei muito curiosa sobre a margem do rio à beira das frondosas árvores, se é cá se é lá, se quem tirou a fotografia estava perdido na outra margem do rio, ou num barco, ou numa ilha, ou no tempo.... quem sabe?
Tenho lá um desafio muito giro.
P.S. Então é assim: Como ainda não sinto categoria para comentar, vou deixando o mesmo recado em todos os senhores(as). Certo??
Até logo.
Caminhos de perdição e de achamento, os de nós, que não cabemos nas nossas fronteiras materiais.
Abraço.
... viajaria para norte
onde o mar é alteroso, o frio intenso e o sol uma raridade
perdia-me sim por aí, algures entre inverness e o que desse
É o tempo, Perdido. É o tempo que não dá sossego e nos obriga à viagem. Um dia chega para tudo. Para viver morrer, voltar a nascer e assim sucessivamente. Nos intervalos costumo ir à retrosaria comprar fita de nastro, carrinhos de linhas de várias cores e alfinetes para espetar na ponta dos dedos. É assim que vejo se estou viva, morta, em processo de regeneração ou errando temporariamente no mar do detalhe. Não é mau.
*
entrementes,
alberto caeiro
grita
para alvaro de campos,
quando actua o;
nealcaloide do conium maculatumste,
,
cai o pano,
e o horizonte . . . !!!
,
abç,
*
Andei na passeata. Gostei.
Uma noite descansada.
Magix
Perdição é assim: fazer a viagem e não saber se vai voltar. Perdidos há muitos e cruzam-se a toda a hora como os peixes em aquário.
A margem do rio é cá, mas do lado de lá. Estávamos os dois perdidos no mesmo barco, lembras-te? No tempo, não!Maio de 2004.
dona tela
Enquanto descobre e não descobre que categoria sente, vá fazendo as suas passeatas tranquilizadoras. Volte sempre sem complexos.Quando se sentir mais à vontade, falaremos.
licínia
enquanto perdemos as origens achamos os destinos.
quanto a mim, a última fronteira material é a do meu corpo (e se não couber nela vou ter que começar eheheh! a fazer exercício)
segurademim
Viajar para Norte é seguro, desnortear é perder-se. Mas se vais em demanda do que desse, força, que até o mar calmo, e o calor intenso, endoidece.
graça
o dia só não chega para tudo porque a checklist é muito extensa. A batota está em deixar coisas para amanhã.
Mas o instante chega e sobra, porque é o intervalo de tempo suficiente para acontecer tudo e para que não volte a acontecer mais.
poetaeusou
O Alberto a gritar? Nem parece dele.
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