Porquê tremontelo?
Porquê tremontelo? É a pergunta que muitas amigas e amigos me fazem.De cada vez que surge a pergunta, respondo. Direi com verdade que a resposta é sempre a mesma, sendo sempre diferente.
Poderão pensar: "que snob! a recorrer à antítese só para épater le bourgeois". Mas em rigor não é por aí que passa a snobeira. Reflectindo um pouco, uma resposta não é (não é sempre, ou não será a maioria das vezes) uma proposição a que se possa afectar um valor lógico. A resposta é da natureza da comunicação, e não do conhecimento. Ou seja, tem duplamente a ver com o destinatário (o emissor da pergunta) e com a mensagem. A mensagem, cujo conteúdo, no caso em apreço, se reporta a uma situação de facto, faz com que a resposta seja sempre a mesma; o destinatário irá ter, como merece, uma resposta adequada à sua expectativa. Porque, diga-se a verdade custe o que custar, para cada pergunta que se faz, conforme o perguntador, só aceita uma parte das respostas válidas recusando as demais.
Daí, o acerto em ter dito que a resposta é sempre a mesma, sendo sempre diferente. Mas, agora que ninguém perguntou, surge a pergunta, direi melhor a questão - que não soa da mesma maneira ser perguntado ou ser inquirido - de saber "porquê o tremontelo?". Não sendo uma pergunta feita por alguém em particular, talvez neste caso se justifique dar uma resposta que, ficando a ser para sempre a mesma, não admita variações de si própria. Porque a pergunta assim definida é uma amalgama das perguntas feitas anteriormente, uma espécie de eco uma só vez devolvido das muitas perguntas feitas à boca da caverna onde as essências e aparências se confundem e revelam.
Já foi dito que o caso se reporta a uma situação de facto. Quando é feita uma pergunta sobre algo que aconteceu, a resposta deve assumir o formato de uma estória. Seja, então a resposta à pergunta "porquê o tremontelo?" a narração de uma estória.
"Era uma vez", convém que a estória assim comece, indicando desde logo que se trata de um facto real ocorrido num ponto preciso do tempo e do espaço que a memória já não permite localizar com rigor. Não havendo memória nem registo, não havendo história do caso, portanto, a fórmula vaga faz prevalecer a veracidade sobre a precisão, com o mesmo subtil despacho com que a fórmula forense "e aos costumes disse nada" nos despacha para o ponto seguinte da ordem de trabalhos com a agilidade empresarial do "time to market"!
Era, portanto, uma vez, acho que num sábado. Tinha apanhado azeitona no domingo anterior. Depois de escaldada e retalhada ficara de molho durante a semana com algum sal, rodelas de laranja e alho. Era a primeira vez. E recolhendo não sei que informações desconexas armazenadas nos recônditos do cérebro, entendera que era assim e, caso estivesse enganado, deveria de ser de uma forma muito aproximada.
Segurança de amador, bem certo, mas segurança todavia.
Com uma pontinha de dúvida, sem dúvida, e uma vontade muito grande de aprender. Pois só se aprende quando se confirma o que já se sabe.
Era sábado e lá estava pronto para receber a equipa técnica que iria montar o meu aquecimento a pellets. Apareceram mais ou menos à hora combinada (no Ribatejo há um compromisso muito grande com os horários desde que o intervalo de tolerância seja convenientemente largo). O trabalho ficou um espectáculo e deu tempo para uma conversata pós-laboral à laia de descontração. Os meus companheiros de ocasião eram, um, o patrão, pessoa diferenciada e de conversa desenvolvida, o outro, o empregado, ar mais popular e de quem se espera que faça uns trabalhitos de agricultura ao fim de semana, em terreno próprio ou de empréstimo. Conversa de encomenda, apropriada à maneira particular de cada um. Chega à vez de entreter conversa com o último e disparo: "Tenho ali umas azeitonitas que colhi daquela oliveira" e apontei, "por acaso não sabe como se tratam?".
Se sabia! Com orégãos e erva azeitoneira. "Erva azeitoneira?". Sim, erva azeitoneira. Que ela havia muita ali no Ribatejo, crescia à toa à beira dos sobreiros e em terra barrenta. Mas terra barrenta era o que eu tinha, e sobreiros não me faltavam. Mas não, o meu terreno não era apropriado, tinha que ir não me lembro aonde que por lá havia muita. Que deitava cá um cheiro!
Comecei a fazer contas à vida a ver se me dava jeito ir à procura da erva azeitoneira. Que raio de erva seria?
O homem desapareceu lá para os lados do lago, teria ido aliviar águas longe dos olhares indiscretos da humanidade ali presente. O patrão arrrumava o material na carrinha. Eu acelerava os processos mentais em todas as direccções habituais: o quê, onde, como, quando, ...
Reapareceu radiante. Que sim. Afinal havia erva azeitoneira no meu terreno. Era eu, afinal, detentor de um volumoso macisso de erva azeitoneira. E apontava com o dedo triunfante o frondoso arbusto do meu tomilho.
Mas, homem, isso é tomilho, retorqui-lhe, deitando um balde de água gelada sobre a sua prodigiosa descoberta. Que não. Que sim. Que não, o tomilho é uma coisa que se vende nas mercearias, e isto era espontâneo, era mesmo ali da terra. Que sim, que eu o tinha comprado como tal no garden center num pequeno vasinho e que eu cuidara, depois de transplantado exactamente para aquele sítio.
O homem coçava na cabeça e dizia: "se calhar, será..."
Fiquei intrigado com a descoberta e fui à procura: Google, busca!
Recomendo que vejam os seguintes sítios:
http://somdatinta.blogs.sapo.pt/arquivo/359586.html
Será na realidade o Thymus Zyguis?
Em http://www.mundo.iol.pt/aromaticas/economia-e-financas.empresas/corpoestrutura1.html
descobri que o Thymus Zyguis tem a designação corrente de Tomilho-do-monte. Mas chamou-me a atenção, umas linhas abaixo, o tormentelo (Thymus caespititius). Que nome giro, certamente uma corruptela de tomentelo (de "tomentum", um raminho) contaminada pelo étimo "tormento".
No Prontuário Prático do Português da Galiza descobri :
- tomelo (tomilho), tomelo (tomate em baralhete)
- tomentelho (tomentelo), tomentilho (tomentelho), tormentelo (tormentelho), trementelo (tormentelo), tormentelho (tomentelo), tomentelo (tomelo)
- tominho (tomilho; dim. tomo), Tominho (top.)
Por enquanto, fico-me com a palavra. É sexy. Mais uma razão para não a perder de vista.
Etiquetas: erva azeitoneira, garden, tremontelo
4 Comentários:
Thyme (Thymus) is a genus of about 350 species of aromatic perennial herbs and sub-shrubs to 40 cm tall, in the Family Lamiaceae and native to Europe, North Africa and Asia. A number of species has some chemotypes. The stems tend to be narrow or even wiry; the leaves are evergreen in most species, arranged in opposite pairs, oval, entire, and small, 4-20 mm long. The flowers are in dense terminal heads, with an uneven calyx, with the upper lip three-lobed, and the lower cleft; the corolla is tubular, 4-10 mm long, and white, pink or purple.
Common Thyme or Garden Thyme, T. vulgaris is a commonly used culinary herb. It is a Mediterranean perennial which is best suited to well-drained soils and enjoys full sun.
Caraway Thyme, T. herbus-barona is used both as a culinary herb and a groundcover, and has a strong caraway scent.
Citrus Thyme T. x citriodorus (T. pulegioides x T. vulgaris) is also a popular culinary herb, with cultivars selected with flavours of various Citrus fruit.
Woolly Thyme (T. pseudolanuginosus) and Creeping Thyme (Thymus serpyllum) are not culinary herbs but are attractive ground covers.
Wild Thyme (Thymus serpyllum) is an important nectar source plant for honeybees. All thyme species are nectar sources, but wild thyme covers large areas of droughty, rocky soils in southern Europe (Greece is especially famous for wild thyme honey) and North Africa, as well as in similar landscapes in the Berkshire Mountains and Catskill Mountains of the northeastern US.
Thymus species are used as food plants by the larvae of some Lepidoptera species including Chionodes distinctella and the Coleophora case-bearers C. lixella, C. niveicostella, C. serpylletorum and C. struella (the latter three feed exclusively on Thymus).
Thyme is often used to flavour meats, soups and stews. It is used in French cuisine, where it is an important element in a bouquet garni, as well as in Herbes de Provence. It is also widely used in Caribbean cuisine. In some Middle Eastern countries, the condiment za'atar contains thyme as vital ingredient.
Thyme should be added early in cooking so that its oils have time to be released.
É claro que a o contexto tomentilho-tormentelo-tremontelo exige algum cuidado adicional em termos de análise.
Do meu ponto de vista a parte interessante tem a ver com o uso do dito cujo: como base de suporte culinário ou como suporte das nossas amigas abelhas na produção do mel (de excelentes propriedades diga-se de passagem).
Para a descrição do contexto da versão selvagem junto:
Wild Thyme (Thymus serpyllum) is a species of thyme native to most of Europe. It is a low, usually prostrate subshrub growing to 2 cm tall with creeping stems up to 10 cm long, with oval evergreen leaves 3-8 mm long. The flowers are pink-purple, strongly scented, 4-6 mm long, produced in clusters of several together.
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Uses
It is a source of oil of Serpolet by distillation, and is used in herbal medicine. The dried leaves are used for an herbal tea.
It is an important nectar source plant for honeybees as well as the Large blue butterfly who feeds exclusively on wild thyme. All thyme species are nectar sources, but wild thyme covers large areas of droughty, rocky soils in southern Europe (Greece and Malta are especially famous for wild thyme honey), as well as in areas where it is naturalized in North America and New Zealand, such as the Berkshire Mountains and Catskill Mountains of the northeastern United States.
Tenho cultivadas no meu horto duas espécies de tomilho: o Thimus Vulgaris e o Thimus x Citriodorus . Difere este do primeiro pela sua cor amarelada e o cheiro a limão. Logo que possa trarei para aqui uma foto de cada.
Estão-me a faltar as outras 348 espécies, quiçá uma delas a erva azeitoneira.
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